Os fatos e seus peixes

Olhei até
ficar cansado
os peixes que estão no aquário...

Compramos um aquário. E peixes para o aquário. São três. Um azul, um meio bege e um dourado brilhante. No início, quando nós os compramos, eles nadavam furiosamente, de um lado para o outro. É um aquário pequeno.
Eu me questionava a respeito da presunção e a crueldade que nos fez reduzir o mundo desses bichos a 30cmX20cmX15cm, de certa forma me divertindo em meio à obviedade ululante da natureza das coisas. Um enfeite que comia, nadava aleatoriamente e defecava, embora eu soubesse que não era nada disso.

Não sou idiota a ponto de nunca ter ponderado a respeito da evidente falha de raciocínio sobre a harmonia e felicidade de todos os seres do Cosmo, entendido de uma maneira religiosa, fetichista, infantil e estúpida, ou então simplesmente me sentindo bem em meio a teorias simplistas sobre o papel de cada um no universo e outras conformidades conforme as quais tudo é confortável em meio ao nosso conforto, ignorando propositalmente o cara torcendo o pescoço da galinha.
Não, não é isso, caso alguém de QI menor que 100 leia isto. Gosto de um bom bife, mal-passado e jorrando sangue, e meu intelecto não "olha para outro lado" quando eu aperto aquelas fibras musculares deliciosas do traseiro de algum ruminante morto, para que o sangue remanescente na fatia de músculo tempere meu prato de arroz (Excelente fazer isso em churrascaria. Eles usam uma camada de sal grosso ao redor da carne e a água do sangue permanece presa lá dentro, até eles cortarem o pedaço que você pediu. O sangue flui em seu prato).
Não se trata da nossa crueldade inerente a se manter aqueles "pobres e indefesos" peixes em um aquário. Discutir isso seria tolice, face aos fatos. Os peixes são o ponto. Os peixes e seus fatos. Os fatos e seus peixes.

Depois de duas semanas, eles nadavam cada vez menos. O dourado, depois de explorar o minúsculo território no primeiro dia, procurava sempre os cantos para ficar topando, procurando nadar através de.
De repente, parou de tentar, e permanecia parado, assustadoramente, olhando para o lado de fora do aquário e abrindo a boca, fitando quem o olhasse. Durante horas. Primeiramente, acreditamos que ele estava morrendo, talvez estivéssemos cometendo algum erro, dando comida a mais ou a menos, lavando o aquário de maneira inadequada. Mas, segundo o que me disseram, são peixes resistentes e não requerem muito cuidado. Ele continuou dias, dessa maneira. Seria a perda do vigor da juventude, já que aqueles peixes não vivem muito tempo? Às vezes, eu realmente acredito que aquele bicho idiota, cuja memória não vai muito além de oito ou dez segundos, havia atingido a iluminação. Ele percebeu que aquela barreira invisível que impedia que ele nadasse até o sofá, passeasse ao redor da TV ou explorasse as cortinas, era uma porcaria de um aquário.
(Pollux Pacheco)

O que é o nosso aquário?